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O que dizer sobre as avós no século XXI?

Nas últimas décadas podemos perceber uma mudança no papel dos avós em nossa sociedade, muitos deles passando a desempenhar o papel de pais. Podemos identificar um crescimento no número de lares em que três gerações convivem: pais, netos e avós. Cresce também o número de lares em que os avós cuidam plenamente de seus netos, com os pais morando em outro domicílio. Lopes, Neri e Park (2005) listaram alguns fatores que colaboram para esses padrões de estrutura familiar:

  • inserção da mulher no mercado de trabalho, com maior dificuldade em cuidar dos filhos;
  • dificuldade econômica por parte dos pais, e necessidade de apoio dos avós;
  • dissolução de casamentos, com retorno, geralmente da mulher, à casa dos pais;
  • gravidez precoce e despreparo para cuidar dos filhos;
  • morte precoce dos pais;
  • incapacidade física ou emocional dos pais.

 

Esses modelos de organização familiar em que os avós assumem o papel de "avós em tempo integral" podem estar associados a benefícios, mas também a dificuldades, tanto para as crianças como para os avós. Os avós podem se sentir realizados, menos sós e com maior autoestima por assumirem a responsabilidade dos netos, mas por outro lado podem estar sendo submetidos a uma sobrecarga de funções que, em alguns casos, não é mais compatível com o estado de saúde física e financeira comum entre muitos idosos. No Brasil não dispomos de dados que nos mostrem qual a porcentagem de lares em que se pode encontrar esse papel expandido dos avós, mas sabemos que 20% dos lares brasileiros têm idosos como chefes de família e cerca de um terço desses lares é composto por casal e/ou parentes (IBGE, 2002). Ao cruzarmos esses dados com o percentual de apenas 15% das crianças na fase pré-escolar que frequentam creches ou escolas, e a crescente participação das mulheres no mercado de trabalho, em algumas regiões do País superando a marca dos 50%, podemos imaginar que nossos avós brasileiros devam estar participando de forma significativa para criação de seus netos.

A "Hipótese Avó" é bem reconhecida pela ciência como o meio pelo qual a evolução permitiu que as mulheres, ao amadurecerem, fossem avós e não mães de novas crianças. Hoje em dia cresce o papel de avós como tutores dos netos, mas há também o outro lado da moeda: há situações em que os avós entram em conflito com os pais por ultrapassarem os limites de interferência na educação dos netos sem a concordância dos pais. Usando o bom-senso, a chance de sucesso é grande: avó tem que ser avó e mãe tem que ser mãe.

 

 

Dr. Ricardo Teixeira – CRM/DF 12050 – é doutor em neurologia e pesquisador do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Unicamp. Dirige o Instituto do Cérebro de Brasília e é o autor do blog "ConsCiência no Dia a Dia".

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