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Infelizmente não há como fugir do assunto: os familiares de vítimas e vítimas da tragédia de Santa Maria podem, em muitos casos, sofrer com um quadro de estresse pós-traumático, dada a dimensão do ocorrido?

Certamente. A tragédia ocorrida em Santa Maria é um típico evento capaz de causar o desenvolvimento do transtorno do estresse pós-traumático. Catástrofes dessa magnitude causam não só consequências diretas, como as vítimas do fogo, como outras vítimas, que muitas vezes são ignoradas. Não só os familiares e os sobreviventes do incêndio podem vir a desenvolver diversos transtornos mentais, incluindo o TEPT, como também pessoas que testemunharam ou mesmo assistiram imagens fortes da catástrofe pela televisão também estão em risco para o seu desenvolvimento.

 

Como é feito o suporte e tratamento às vítimas do estresse pós-traumático nesses casos?

O transtorno do estresse pós-traumático possui três formas de tratamento: a farmacoterapia isolada, a psicoterapia isolada e a união dessas duas. Acredita-se que tanto a farmacoterapia quanto a terapia cognitivo-comportamental (um tipo de psicoterapia) sejam igualmente eficazes. No caso da farmacoterapia, as drogas de escolha são os antidepressivos inibidores seletivos da recaptação da serotonina, principalmente a paroxetina e a sertralina. Os benzodiazepínicos devem ser evitados, não só pelo risco de abuso, como também devido a um possível efeito iatrogênico em relação aos sintomas do TEPT.

Já em relação à psicoterapia, a forma mais eficaz é a terapia cognitivo-comportamental. Nela, o terapeuta, em um ambiente seguro (normalmente no consultório), vai gradativamente expondo intencionalmente o paciente às suas lembranças traumáticas e, com o tempo, prevenindo as sensações de perigo, desconforto e insegurança causadas por elas. Esse processo é chamado de dessensibilização ou mesmo extinção da memória.

Embora o tratamento seja longo e difícil, muitos pacientes superam completamente o trauma, e voltam a ter uma vida normal. O TEPT se torna mais difícil de ser tratado quando ele é crônico, ou seja, quando seus sintomas apresentam uma duração maior ou igual que três meses.

 

 

Prof. Dr. William Berger graduou-se em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com residência médica em Psiquiatria na mesma universidade. Especialista em Psiquiatria da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), William obteve o Título de Mestre em Psiquiatria pela UFRJ e, posteriormente, o Título de Doutor em Psiquiatria pela mesma instituição. Em 2011, tornou-se professor temporário de Psiquiatria da Universidade Federal Fluminense (UFF) e, em 2012, passou a professor adjunto de Psiquiatria da UFF. Em setembro de 2012 tornou-se professor colaborador do Programa de Pós-Graduação em Psiquiatria e Saúde Mental (PROPSAM) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

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