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Além dessas medidas, como a mulher pode superar a perda gestacional?

Como psicóloga e professora de Psicologia, acredito que uma estratégia eficaz, para a superação desse problema, seria passar por uma psicoterapia (de grupo ou individual), onde essa mulher enlutada possa, em um espaço protegido, entrar em contato profundo com o seu sofrimento, que pode envolver desde a frustração até o sentimento de culpa. Entendo, desse modo, que a perda gestacional constitui um fenômeno que pode estar associado a um sofrimento emocional tão radical que caberia recorrer ao auxílio de um profissional, que tenha uma escuta acolhedora e que tenha suporte emocional para acompanhar intimamente uma pessoa enlutada.

Apesar de entender que o espaço psicoterapêutico seria um ambiente favorecedor da elaboração do luto, compreendo que todo o ambiente habitado pela mulher enlutada deve ser acolhedor para com ela nesse momento de maior fragilidade emocional. Entendo, assim, que se faz necessário que aqueles que convivem com essa mulher se relacionem com ela sensivelmente, sem ficar tocando no assunto, questionando sobre a próxima gravidez. Desse modo, creio que a melhor forma de superação da dor é estar imersa em ambientes de cuidado, seja o psicoterapêutico, familiar, ou outra rede de apoio.

 

Quanto tempo as mulheres levam em média para superar a perda?

As mulheres tendem a oscilar bastante em relação às gestações futuras, após terem vivido uma perda gestacional. Há aquelas que tentam engravidar o mais rapidamente possível, do mesmo modo que há as que abandonam o sonho da maternidade para o resto de suas vidas. Entretanto, de acordo com pesquisas realizadas junto a mulheres brasileiras, de maneira geral, aquelas que optam por engravidar novamente assim o fazem após um ano, a partir da perda gestacional vivida. Não é possível afirmar que esse tempo seja suficiente para que elas estejam preparadas para lidar com uma nova gravidez. Na verdade, se do ponto de vista biológico os médicos conseguem estabelecer prazos bem delimitados a partir dos quais essas mulheres já poderiam engravidar novamente, na perspectiva psicológica essa questão é mais complexa, já que o sofrimento não segue um tempo lógico. Há certos traumas que doem infinitamente, do mesmo modo que há determinadas dores que são elaboradas em relativamente pouco tempo.

 

 

Dra. Miriam Tachibana é psicóloga formada pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Fez aprimoramento em Psicologia Clínica na Saúde Reprodutiva da Mulher pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas. Mestre em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Doutora em Psicologia, Ciência e Profissão pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas e doutora em Psicopatologia pela Université Charles de Gaulle Lille 3. Atualmente é pós-doutoranda em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo e pela Université de Paris X - Naterre, com bolsa da FAPESP. Também é professora afastada do curso de Psicologia do Centro Universitário Salesiano de São Paulo – unidade de Americana.

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