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Por que algumas pessoas sentem mais e outras menos esse tipo de perda?

As pessoas que mais sentirão a perda serão aquelas que possuíam maior vínculo afetivo com o companheiro. Quanto mais forte a ligação afetiva, mais intenso será o luto. Outro ponto a ser destacado é que não existem regras sociais para o luto nestes casos, então a maioria das pessoas esconde seus sentimentos. Muitos temem a rejeição social e receiam ser considerados insanos ou frágeis. Manifestar publicamente ou não o luto é, antes de tudo, uma questão pessoal, mas com forte influência cultural. A nossa cultura atribui um valor menor à vida animal e naturalmente banaliza o luto por ela. Para ilustrar a importância do padrão cultural na expressão das emoções, vale a pena citar o Egito Antigo, onde cães e gatos eram honrados e adorados como deuses. Quando um destes companheiros falecia, os proprietários manifestavam o luto raspando as sobrancelhas e lamentando em voz alta por vários dias.

 

O que explica esse sentimento de luto pela perda de um animal?

Em termos neurobiológicos, o luto pela perda de um companheiro seria modulado pelos mesmos mecanismos neurais que regulam o luto por humanos. Pesquisadores da Universidade da Columbia University e do New York State Psychiatric Institute defendem que a ligação entre a amígdala, estrutura reguladora das emoções, e as regiões pré-frontais do córtex cerebral é responsável por regular o foco da atenção e os sentimentos de tristeza dos enlutados. Estes mecanismos seriam os responsáveis por manter os pensamentos recorrentes com o ente falecido e pela tristeza, sintomas cardinais do luto. Porém, para entender completamente o luto, seria necessário entender a complexa relação entre o homem e estes queridos companheiros.

Anna Quindlen, em "Good Dog Stay", descreveu a relação com seu cão como a única relação não complicada em sua vida: "o que você vê é o que você tem". Fromma Walsh, professora e fundadora do Chicago Center for Family Health, descreve que muitas pessoas, de crianças a idosos, experimentam uma profunda afinidade com o companheiro de estimação e que isso transcende a dimensão espiritual da experiência humana. Poderíamos ainda dizer que esta relação se dá pelo amor fraterno, despertado pela compaixão pelo mais fraco e indefeso.

Foi tentando entender a natureza da associação homem-pet que alguns estudos se debruçaram sobre a Teoria do Apego, descrita na década de 80 pelo psicanalista John Bowlby. Segundo Bowlby, o apego caracteriza-se, entre outras coisas, pelo desejo de estar perto, aconchegar-se, cuidar, segurar, necessidade de estabelecer contato visual e sorrir na presença do outro. O apego está presente na relação entre genitores e bebês, em relacionamentos românticos entre humanos e entre animais e seus filhotes. É provável que a relação bilateral de apego homem-animal seja o fator determinante para o desenvolvimento do sentimento de luto. Podemos dizer que um forte apego preanuncia uma reação de luto mais intensa.

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