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Quais os exemplos de cirurgias íntimas femininas que são realizadas?

A enorme maioria das técnicas de cirurgia íntima não apresenta qualquer evidência ou embasamento científico, sendo feitas empiricamente. Embora muito divulgadas na mídia e na imprensa leiga, a literatura médica ainda é desprovida de séries e ensaios clínicos que registrem as indicações e eventuais complicações. As técnicas reconhecidas, com registro de suas indicações, evolução e complicações, são enumeradas a seguir:

 

Ninfoplastia - é a correção cirúrgica da hipertrofia dos pequenos lábios. Dentre causas frequentes de hipertrofia dos pequenos lábios, temos a constitucional, a idiopática, a adquirida com o avançar da idade em virtude de perda do colágeno e substituição dos tecidos de sustentação dos pequenos lábios, além do histórico de múltiplos partos vaginais e traumas repetidos na região vulvar decorrentes da tração e manipulação excessiva durante o intercurso sexual.

Causas menos frequentes seriam a irritação e inflamação crônica, como nas pacientes com incontinência urinária de esforço e dermatites. Não existem critérios firmados para determinar as indicações da cirurgia, mas a ninfoplastia pode ser considerada nas pacientes cuja hipertrofia implique em vergonha de expor a sua genitália, causando dificuldade de se relacionar sexualmente, bem como algum tipo de dor, não só durante a relação sexual, como também na utilização de alguns tipos de vestuário e na prática de alguns esportes, pela compressão da região.

 

Himenoplastia ou Himenorrafia - as indicações seriam limitadas às pacientes cuja integridade do hímen é motivo de discriminação matrimonial, em virtude de valores culturais e religiosos, e naquelas que sofreram violência sexual. A reconstrução do hímen nestas pacientes atenuaria os conflitos e traumas psicológicos.

 

Colpoplastia, ou Colpoperineoplastia ou Perineoplastia - consiste no reparo do períneo e da parede vaginal posterior por rotura perineal ocorrida pós-parto via vaginal. Mesmo nas pacientes que sofreram assistência obstétrica adequada, fatores como múltiplos partos, flacidez do assoalho pélvico podem causar frouxidão da parede vaginal e músculos do introito vulvar. As indicações estariam relacionadas diretamente a esses fatores, que causariam granulomas de episiotomia (corte realizado no períneo no momento do parto para facilitar a passagem do recém-nascido), desvio da fúrcula vulvar, dispareunia de penetração e perda do espaço virtual vaginal.

 

Clitoropexia ou Clitoroplastia - consiste na plástica do clitóris. As principais causas de aumento ou hipertrofia do clitóris são aquelas relacionadas à hiperplasia adrenal congênita, ingestão de esteroides, gestação ou adquiridas com o avançar da idade em virtude do metabolismo androgênico. O eixo e a base do clitóris podem ser cirurgicamente reduzidos por meio da ressecção da semicircunferência superior, incluindo apenas a pele, com preservação do pedículo vascular e nervoso sensitivo. A finalidade é reposicionar o clitóris, reduzindo seu tamanho e protuberância. A literatura é extensa e relacionada à plástica por hipertrofia decorrente da hiperplasia da glândula adrenal, geralmente congênita, que expõe a paciente a altas taxas de esteroide androgênico endógeno.

 

Vaginismo ou Vulvodínea - consiste na dor por contração involuntária dos músculos da vagina ou do introito vulvar, dificultando ou até impedindo a penetração peniana e conclusão do intercurso sexual. O tratamento é voltado para a psicoterapia, fisioterapia perineal e vaginal. Em algumas situações é útil a injeção de toxina botulínica nos músculos do introito vulvar, quando o vaginismo decorre unicamente da contração involuntária deste grupo muscular.

 

Depilação a Laser da Genitália Feminina - é outra prática incluída dentro das cirurgias estéticas da genitália feminina.

Cirurgias como a lipoescultura do monte de Vênus, clareamento vulvar, bioplastia dos grandes lábios e clareamento anal são destituídas de estudos clínicos, sem registro de indicações, resultados e complicações.

 

Qual a faixa etária das mulheres que costumam procurar por esse processo cirúrgico?

A faixa etária é variável, dependendo do tipo de cirurgia realizada. Cirurgias como a ninfoplastia por hipertrofia dos pequenos lábios ou a clitoroplastia por hipertrofia congênita adrenal devem ser realizadas após o término da puberdade, quando a adolescente tem seu desenvolvimento genital e mamário estabelecido. 

 

Segundo pesquisas realizadas, a cirurgia campeã de procura é a que associa a reconstrução do hímen, conhecida como himenoplastia. Essa informação é correta?

A cirurgia realizada com mais frequência no século XX e no início deste século é a colpoperineoplastia, decorrente de trauma perineal e vaginal pós-parto normal. Em virtude do sedentarismo, constipação intestinal por dieta pobre em fibras e perda constitucional do colágeno do assoalho pélvico, pacientes com um único parto vaginal podem vir a apresentar frouxidão dos ligamentos e tecidos do períneo. Não existem registros estatísticos confiáveis acerca do número de himenoplastias realizadas no Brasil. A cirurgia é indicada nas pacientes virgens que sofreram violência sexual e desejam a reconstrução do hímen e nas jovens cuja integridade do hímen represente fator de exclusão social por crenças religiosas ou culturais.

Em 1998 a revista British Medical Journal publicou o relato de 20 mulheres, com idade entre 16 e 23 anos, submetidas à himenorrafia nos países nórdicos da Europa, com 100% de satisfação. O grupo foi constituído pela segunda e terceira geração de adolescentes muçulmanas de países do Mediterrâneo, África e por ciganas. Apesar do aculturamento europeu, com tendência menos conservadora, no momento do matrimônio essas adolescentes permaneciam vinculadas à crença e cultura de suas famílias, com valorização da virgindade. A Guatemala é o país com o maior registro publicado de himenoplastias.

Cerca de 2% das mulheres sofreram reconstrução do hímen. A população é de maioria católica e a Igreja mantém uma linha conservadora, autoritária, com forte influência governamental. Além do registro de grande número de himenoplastias, como alternativa à perda da virgindade, há enorme registro da prática do sexo anal dentre as virgens adolescentes, segundo dados de artigo publicado na revista Lancet, em 2006 (Reconstructing virginity in Guatemala).

Nestas situações é prática não mutilante, que pode ser considerada no mesmo contexto da circuncisão masculina, realizada como sinal de inclusão dos meninos na comunidade judaica, como uma “cirurgia ritualística”. Contudo, não há qualquer suporte científico na literatura médica de indicações outras que visem alimentar a fantasia sexual de casais que desejam a himenoplastia como mero produto de satisfação idílica.

 

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