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Em comparação com a medicina ocidental mais conhecida por nós, no que a MTC se diferencia?

Principalmente no seu caráter preventivo e na visão da saúde como um todo. A medicina ocidental foca sua atenção na lesão, ou seja, muitas vezes o paciente vai ao médico se queixando de alguma coisa, e se o médico não encontra nada de alterado no exame físico ou nos exames complementares não qualifica a queixa do doente. A base desse pensamento é, portanto, "lesional".

A Medicina Chinesa, ao contrário, possui em seu arcabouço teórico formas de entender queixas de pacientes que não apresentam ainda alterações anatômicas ou em exames complementares, entendendo-as como disfunções a serem tratadas e prevenidas. Muitas vezes, durante a entrevista inicial, encontra-se uma informação que nem sequer foi qualificada pelo paciente como "queixa", mas que para o médico é um indício de um problema futuro, caracterizando o caráter preventivo dessa medicina.

 

Como são as consultas realizadas pela MTC? No que consistem os tratamentos?

As consultas possuem as etapas de entrevista (anamnese), onde se faz uma série de perguntas que ajudam a compor o diagnóstico. A outra etapa é o exame físico comum e o exame físico próprio da Medicina Chinesa, que consiste na observação da língua, na palpação dos pulsos e da temperatura de áreas do corpo, como abdômen, mãos e pés. Na observação da língua são avaliadas diferentes nuances de cor, o tamanho, seu grau de hidratação, entre outros fatores. Cada área da língua se relaciona com um órgão do corpo. Assim, observando a ponta da língua, temos uma ideia da condição do coração, por exemplo.

A palpação dos pulsos na região dos punhos também expressa condição de órgãos internos. Essa palpação é feita com três dedos do médico de cada lado e palpa-se não o número de batimentos, mas a qualidade dos batimentos sentida na ponta dos dedos. É um exame que exige treinamento exaustivo do médico e, através dele, se faz diagnósticos importantes sobre a saúde do paciente, muitas vezes com alterações que ainda sequer deram sintomas. A palpação dos pulsos pode ajudar, ainda, a avaliar se um tratamento está dando certo ou não, identificar o sexo dos bebês nas mulheres grávidas e muito mais.

Depois disso vem a terapêutica, que pode ser uma daquelas citadas acima. Muitas vezes prescreve-se um conjunto delas, como acupuntura associada à fitoterapia e aos exercícios físicos.

 

A Anvisa divulgou recentemente a intenção de regular a venda de alguns medicamentos da Medicina Chinesa, como os de origem animal. Como você enxerga esta medida?

A tradição de usar terapeuticamente os produtos de origem animal é muito antiga, faz parte da cultura chinesa. Até hoje as farmácias chinesas exibem chifres de veado, asas de insetos, entre outros com fim terapêutico, amplamente prescritos pelos médicos e consumidos por seus pacientes. No Ocidente esse tipo de terapêutica não é bem visto, já que a nossa noção de terapêutica e de assepsia não contempla esse tipo de coisa. Penso que a Anvisa está correta na sua decisão, até porque não se pode ter controle da qualidade de todo material terapêutico que chega ao Ocidente, tanto pela qualidade do produto, quanto por sua condição de higiene. Penso que um controle maior, conhecendo laboratórios chineses idôneos para importação desses produtos, pode resolver esse problema sem a necessidade de proibir o uso de produtos que fazem parte da farmacopeia chinesa.

 

 

Dra. Claudia Ferreira é médica formada pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense no estado do Rio de Janeiro. Especialização em Clínica Médica pela Santa Casa do Rio de Janeiro. Título de Especialista em Acupuntura pela Sociedade Médica Brasileira de Acupuntura. Mestrado e Doutorado pelo Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, na linha de pesquisa Racionalidades Médicas – Medicina Chinesa. Estudou no China no International Acupuncture Training Center de Beijing. Filiada ao Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro – CREMERJ, sob número 52.55632-2.

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