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A Patologia Culpa

Passemos à questão da patologia da culpa. Haveria mais a demonstrar sobre a natureza da culpa, mas por enquanto está de bom tamanho.

Uma primeira pergunta ideal que as pessoas fazem para entender e diminuir a culpa que faz sofrer é: como ela surge? Mas é uma pergunta não muito eficaz. A pergunta mais eficaz é: como você lidou com o outro no decorrer de sua história pessoal? Foi indiretamente ensinado a você que o outro vale mais do que seus desejos? Foi aprendido por você que, se não atender as demandas do outro, você sofre porque é malvado? Foi-lhe ensinado que você deve engolir a seco para não causar problemas? Em geral são essas perguntas que nos demonstram por que a culpa funciona em excesso, nos martirizando.

Algumas pessoas podem sentir culpa por ter terminado um relacionamento, por ter traído, por ter cometido um ato proibido, por ter comido em excesso, por deixar o filho em casa, por não ter tempo para brincar com o filho, enfim. Em essência a culpa é um sentimento que surge por sempre termos desconsiderado os desejos do outro e termos feito um ato malvado. Essa é a essência da fala da culpa.

E quando isso se torna patológico? Quando passa a pesar sobre a psique individual, extrapolando o mero sentimento orientador de comportamento moral. A culpa patológica é excesso, se estende, é consciente, intensa, permanente, recorrente, específica, serve para carrear pensamentos de punição e conceitos negativos sobre a própria identidade, altera estados de humor e prejudica desempenhos sociais e alguns processos psicológicos.

A culpa patológica mantém-se por um longo tempo na consciência como foco mais ou menos fixo da atenção, ruminando fatos, pensamentos, vontades e histórias. Na pior das vezes, traz consigo um vazio indescritível.

Geralmente quando o excesso é grande, é insuportável ao ponto de essa angústia contaminar processos mentais e os relacionamentos sociais. Por exemplo, não consigo me concentrar e não consigo desempenhar minhas funções. O excesso de culpa nos pune impedindo o fluxo mental e o social saudável. Esse excesso de culpa pode tanto ser criado pela própria pessoa, quanto imposto pelo meio ambiente através das relações interpessoais ou ambos.

Eventualmente ela se torna patológica devido ao histórico pessoal. As pessoas têm sensibilidades diferentes para determinadas situações de vida que desencadeiam culpa. Essa culpa tem a função de nos punir pela reprovação mental e orientar nossa ação em benefício do outro. O problema é quando essa ação não pode ser mais reorientada. Por exemplo, é impossível a mãe deixar de trabalhar para cuidar do bebê que fica com a babá. Quando chega em casa, o olhar do bebê pedindo carinho à mãe corrói o coração materno como facadas que doem e punem. O que fazer nesses casos em que a orientação do comportamento é difícil e até mesmo impossível?

Desde já adianto que tentar por um texto resolver questões psíquicas é muita pretensão para qualquer um. É como se se pedisse ao otorrino que operasse desvio de septo pelo artigo. Um absurdo que vira demanda até nesta sociedade pós-moderna sem tempo para nada e que por isso precisa de receitas prontas e rápidas e funcionais. Algumas questões são impossíveis e muitos profissionais prestam um desfavor aos seus leitores fazendo-os acreditar que é possível operar via texto.

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