Uma pesquisa da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) constatou que as condições ao nascer podem interferir diretamente no desenvolvimento infantil.
O estudo, feito pela psicóloga Adriana Martins Saur, do Departamento de Psicologia da FFCLRP, avaliou 677 crianças entre 10 e 11 anos de idade, de ambos os sexos, que nasceram prematuras, pequenas para a idade gestacional ou com baixo peso, e identificou altas taxas de comprometimento comportamental e emocional.
No estudo, as crianças foram divididas em grupos segundo três critérios: peso ao nascer, podendo ser muito baixo peso (MBP), baixo peso (BP), peso insuficiente (PI), peso normal (PN) e muito alto peso (MAP); idade gestacional (prematuros e a termo); e tamanho ao nascer, neste caso podendo ser pequeno para a idade gestacional (PIG) ou adequado para a idade gestacional (AIG).
Do ponto de vista cognitivo, as crianças foram avaliadas por meio dos Testes de Raven (teste de inteligência não verbal, em que as crianças são solicitadas a escolher uma figura que se encaixe na matriz apresentada) e da técnica de Desenho da Figura Humana (medida de desenvolvimento cognitivo e conceitual, em que as crianças são solicitadas a desenhar as figuras de um homem e uma mulher).
Já para a análise comportamental e emocional, os pais colaboraram, respondendo a um questionário sobre as capacidades e dificuldades de seus filhos. A pesquisa também identificou os fatores que podem interferir no desenvolvimento cognitivo, comportamental e emocional dessas crianças com base em variáveis biológicas, clínicas e socioeconômicas. Estabeleceu, ainda, as taxas de problemas comportamentais encontradas, independentemente do critério adotado.
Os resultados da pesquisa mostraram que crianças de muito baixo peso são mais hiperativas que os outros grupos. Além disso, o peso ao nascer não se mostrou associado ao desfecho cognitivo ou comportamental. Em relação aos sintomas emocionais, o grupo formado por crianças com baixo peso ao nascer apresentou mais problemas emocionais do que aquelas que nasceram com muito baixo peso ou peso normal.
O critério da prematuridade não se mostrou associado a nenhum dos três desfechos investigados e, em relação ao tamanho ao nascer, o estudo identificou que crianças consideradas pequenas para a idade gestacional apresentaram mais comprometimentos cognitivos, comportamentais e emocionais em comparação àquelas nascidas com peso adequado para a idade gestacional.
Outro dado que a pesquisa apontou foi que o grau de escolaridade da mãe e a classificação econômica influenciaram os desfechos cognitivo, comportamental e emocional das crianças avaliadas no estudo. Além disso, nascer com tamanho considerado pequeno para a idade gestacional contribuiu para o aumento de problemas emocionais. Meninos apresentaram mais chances de desenvolver problemas comportamentais.
Em geral, as taxas de identificação de problemas comportamentais foram altas: 38,2% para problemas gerais e 53,9% para sintomas emocionais.
Os resultados encontrados no estudo apontam para a necessidade de ações preventivas direcionadas ao período pré-natal das gestantes, a fim de evitar o nascimento prematuro e/ou de crianças com baixo peso ao nascer, atenuando possíveis riscos decorrentes de tais adversidades. Além disso, sugere-se também a elaboração de programas sociais que possam incrementar as condições socioeconômicas e educacionais da população, visto serem estes fatores que influenciaram o desenvolvimento das crianças em idade escolar.
Fonte: Agência USP