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 LER e DORTDizem que “de médico e de louco, todo mundo tem um pouco”. Sábio jargão popular! Percebam que a frase diz “de médico e de louco”, e não “de médico ou de louco”. A conjunção aditiva “e” nos faz crer que o entendimento popular ratificou a ideia de que todos nós somos um pouco médicos e loucos (ao mesmo tempo). Sendo assim, uma boa e realista interpretação dessa frase é a seguinte: todo mundo tem um pouco de “médico louco”.

É verdade! É muito comum ouvirmos, de pessoas de nosso convívio, afirmativas completamente equivocadas sobre alguns temas inerentes às ciências médicas. Um dos temas mais alvejados por equívocos populares é LER/DORT (LER = lesões por esforços repetitivos; DORT = doenças osteomusculares relacionadas ao trabalho). Sobre esse tema, e à luz das ciências médicas, elencamos cinco afirmativas que classificaremos como mito ou verdade.

 

“Meu cunhado tem uma doença chamada LER.” >>> Mito

Do ponto de vista técnico, o que as pessoas chamam de LER (referindo-se também à LER/DORT) representa um imenso grupo de doenças (que acomete ossos, músculos, tendões, ligamentos, etc.) e que de alguma forma, comprovadamente, possuem alguma relação com o trabalho.

Por que a frase acima é um mito do ponto de vista médico? Pois ela é como se alguém dissesse “meu cunhado tem uma doença chamada inflamação”. Mas inflamação onde? Se fosse nas amígdalas, esse paciente teria uma amigdalite; se fosse no fígado, teria então uma hepatite; e assim sucessivamente. Amigdalite e hepatite terão diagnósticos, tratamentos e prognósticos completamente diferenciados, pois são doenças bem distintas.

Assim, amigdalite e hepatite são doenças do imenso grupo das doenças inflamatórias. Analogamente, a síndrome do túnel do carpo (STC), a epicondilite, a lesão de supraespinhoso, a tendinite estenosante (síndrome de DeQuervain) são alguns dos transtornos que podem elencar o grupo das LER/DORTs. Cada um desses transtornos tem abordagem individualizada: os diagnósticos, tratamentos e prognósticos se diferenciam significativamente entre eles.

Por que colocamos “podem elencar o grupo das LER/DORTs? Pois, para que haja comprovação de qualquer uma das doenças do grupo das LER/DORTs, é necessário também, além de um correto diagnóstico da doença específica, se avaliar o nexo de (con)causalidade com o trabalho. Por exemplo: não é porque alguém é bancário e tem síndrome do túnel do carpo (STC) que necessariamente esse transtorno tenha sido gerado/agravado no trabalho. Não! A STC possui diversas causas não relacionadas ao trabalho, tais como: gravidez, uso de anticoncepcionais, hipotireoidismo, etc. Assim, a análise do nexo de (con)causalidade entre essa STC e o trabalho constitui uma avaliação pericial, e dependerá de todas as características relativas à execução do trabalho da pessoa acometida. Ou seja: uma STC pode muito bem não ser uma LER/DORT: vai depender da configuração (ou não) do nexo de (con)causalidade feita pelo perito.

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