O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade é uma patologia ainda muito pouco compreendida na sociedade brasileira em geral. Deparamos, em grande parte das vezes, com crianças subdiagnosticadas e subtratadas. Infelizmente, o foco do diagnóstico e tratamento do TDAH ainda é voltado em grande parte das vezes para a criança, geralmente do sexo masculino e os de idade escolar. Lamentavelmente, muitos profissionais ainda privilegiam o tratamento da criança com TDAH só no período escolar e, ainda assim, de segunda a sexta-feira e no período letivo, não tratando essas crianças para a vida como um todo, uma vez que não há dúvidas de que o tratamento do TDAH não visa somente à vida escolar, e sim a vida funcional da pessoa como um todo.
Muitas pessoas não têm a percepção da gravidade da doença e dos malefícios que o TDA ou o TDAH costumam causar no curso da vida de muitos desses portadores. Uma questão de suma importância sobre o futuro das crianças e dos adolescentes portadores de TDAH foi trazida à tona. É muito comum que as crianças com TDAH apresentem, desde cedo, muitas sequelas emocionais secundárias aos rótulos e críticas que recebem, tanto em casa quanto na escola. A autoestima e a autoconfiança dessas crianças declinam muito, bem como o rendimento escolar, na mesma medida em que aumentam o comportamento opositivo e desafiador, transtornos de conduta, distúrbios de aprendizagem, expulsões e repetências escolares, número de comorbidades, como o uso de álcool e/ou drogas, Transtornos de Ansiedade, Depressão, Transtorno Afetivo Bipolar, TOC e outros, que podem ocorrer com certa frequência.
Essas crianças e esses jovens tendem a não ter mais vontade de ir à escola – já que têm um problema neurobiológico e neuroquímico que dificulta o seu aprendizado – e podem abandonar os estudos e passar, por exemplo, a viver na marginalidade. Estudos como esse trazem uma estimativa do tamanho da sobrecarga da doença tanto para o portador como para sua família e, no caso dos adultos, para o cônjuge e seus empregadores e propõem que iniciativas sejam tomadas para melhorar a evolução e o prognóstico dessas pessoas.
Uma proposta é a de assistência administrada, ou seja, a supervisão a esses portadores de TDAH que se mostrarem disfuncionais e sem rumo diante da vida. Como é sabido, o TDAH é um transtorno que geralmente resulta em uma vida cheia de problemas persistentes de atenção e impulsividade, e tais problemas, por sua vez, contribuem para um comprometimento global do sujeito numa ampla faixa de funções que acometem a performance acadêmica, social e laboral, as chamadas funções executivas. Os efeitos cumulativos e crônicos dessas dificuldades de função executiva podem ser decisivos para o sucesso ou o insucesso pessoal e, quanto maior for a disfunção executiva, maior será o ônus, o "peso" e a sobrecarga que tão frequentemente costuma se debruçar nos portadores e familiares dos portadores de TDAH. O problema invariavelmente culmina com prejuízos na qualidade de vida dos portadores e de suas famílias e com um aumento significativo dos custos e perdas no rendimento orçamentário.
O problema por vezes toma tal proporção, com sobrecarga às vezes tão pesada, que a dificuldade demanda reflexões rápidas e planos de ação eficazes por parte dos cuidadores, em busca de soluções práticas e seguras. Intervenções educacionais pertinentes e adequadas e criação de ferramentas eficazes de resolução de problemas podem ser implantadas para auxiliar os cuidadores. Inúmeros são os trabalhos documentando os benefícios da farmacoterapia aliada ao manejo assistencial a esses pacientes através da realização de estudos de follow-up. Pesquisas mostram que todas as iniciativas realizadas para o encorajamento e aderência dos pacientes ao tratamento podem ser o melhor investimento para os cuidadores, que buscam melhorar a qualidade de vida dos pacientes com TDAH.
Referências:
American Journal of Manage Care. 2009 May;15(5 Suppl):S151-9.
Evelyn Vinocur é psicoterapeuta cognitivo-comportamental. Atua há mais de 30 anos na área de saúde mental de adulto e é especializada em saúde mental da infância e adolescência. www.evelynvinocur.com.br
